quinta-feira, 5 de maio de 2011

Conversa de botequim - parte 2 -

     Rick ( sentando ao lado do piano) : Sam, que horas são agora em NY?
     Sam ( sem tirar os olhos do teclado do piano, onde toca As Times Goes By): Não faço idéia, chefe.
     Rick : Sam, quantos bares você calcula que possam existir em NY?
     Sam ( ainda com os olhos nas teclas): Também não faço idéia, chefe.
     Rick: Sam, me explica, com tantos bares no mundo, porque ela veio parar logo no meu?

         ( Uma versão de memória de um diálogo entre Dooley Wilson e Bogart no filme Casablanca)

     De minha mesa observo o vai e vem de amores de última hora nascidos de bebidas baratas e biografias exageradas. Não há piano de cauda, não há Sam dedilhando clássicos do Jazz, não há Rick hostilizando nazistas na mesa ao lado. Só meu tédio disfarçado em sorrisos forçados, minha bebida já no fim e a busca do garçom para mais uma rodada do mel do esquecimento.

     - E aí professor, quando sai o próximo livro?

     - Anda sumido mano velho. Não trabalha aqui mais?

     - Posso te fazer companhia?

     - Tá bom de gelo?

     - Acredita que aquela baranga tá sem calcinha? Santa decadência.

     Respostas monossilábicas. Como esticar o nada?

     Minha striper abandona a mesa. Traz numa das mãos uma garrafa de cerveja e na outra um copo pela metade. Me faz lembrar Copo Vazio de Gil. ... é sempre bom lembrar... senta-se na cadeira em frente. Ajeita a saia até o limite do comprimento máximo, passa a mão no couro liso como se tirasse dali farelos de pão, acomoda uma franja rebelde que cobria um dos olhos na orelha. Me presenteia um olhar embaçado.

     - O que eu faço dessa porra dessa vida? Tem alguma idéi?
     - Não. Nenhuma.
     - Se você, que é o dono das palavras não sabe eu tou realmente fudida.
     - Eu não sou dono de nada minha flor, muito menos das palavras.
     - E você é dono de que?
     - No momento do meu drinque, do meu tempo mais algumas coisas que me escapam por causa do álcool, mas que não deve ser importante.
     - Você fica cada vez mais esquisito.
     - Na falta de um adjetivo mais preciso, eu aceito o esquisito.
     - Vou nessa.
     - Asta la vista baby.
    
     Deixou órfãos na mesa a garrafa e o copo, ambos pela metade. Algum significado nisso?

                         - continua no próximo capítulo -
    

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